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"Peço licença para falar na minha criança, a que mora aqui dentro e não me abandonará jamais”. Talvez com a morte eu até regresse a ela. Os quase setenta anos que dela me separam não a removem. Ela ali está, magra e tímida, a me olhar e ditar comportamentos e reações. Talvez com a morte eu até regresse a ela. Os quase setenta anos que dela me separam não a removem. "Peço licença para falar na minha criança, a que mora aqui dentro e não me abandonará jamais”.
Minha criança esteve em todos os meus filhos, e aparece no meus netos. Minha criança esteve em todos os meus filhos, e aparece no meus netos. Ela se refaz da morte e abre os olhos para o mundo, com a certeza de que veio ao mundo para alguma missão. Embora sempre se considere inferior ao tamanho da mesma. Ela se refaz da morte e abre os olhos para o mundo, com a certeza de que veio ao mundo para alguma missão. Embora sempre se considere inferior ao tamanho da mesma.
Minha criança sente enorme saudade de pai,e da mãe, com quem o adulto já não conta. Salvo no exemplo, na saudade e nas orações quando me domina uma fugidia sensação de estarem, incorpóreos, a meu lado, mas sem se manifestarem. Salvo no exemplo, na saudade e nas orações quando me domina uma fugidia sensação de estarem, incorpóreos, a meu lado, mas sem se manifestarem. Minha criança sente enorme saudade de pai,e da mãe, com quem o adulto já não conta.
Minha criança possui incomensuráveis solidões diante do mistério do infinito. Minha criança possui incomensuráveis solidões diante do mistério do infinito. Ainda recua diante do violento, embora não o tema, e ainda se infiltra em episódios de distração e inocência inexplicáveis num homem com minha carga de vivências. Ainda recua diante do violento, embora não o tema, e ainda se infiltra em episódios de distração e inocência inexplicáveis num homem com minha carga de vivências.
Minha criança ainda gosta de abraço caloroso, proteções misteriosas, e de um modo de rezar que o adulto nunca mais conseguiu tal a entrega, e a total confiança no mistério e na proteção de Deus. Minha criança carrega o melhor de mim, é portadora de meu modo triste de falar de coisas alegres e de algum susto misterioso sempre que se lhe impõe alguma expectativa de enfermidade. Minha criança carrega o melhor de mim, é portadora de meu modo triste de falar de coisas alegres e de algum susto misterioso sempre que se lhe impõe alguma expectativa de enfermidade. Minha criança ainda gosta de abraço caloroso, proteções misteriosas, e de um modo de rezar que o adulto nunca mais conseguiu tal a entrega, e a total confiança no mistério e na proteção de Deus.
Minha criança é inteira, mansa, bondosa e linda. Minha criança é inteira, mansa, bondosa e linda. Eu a amo, preservo, e dou boas gargalhadas quando a vejo infiltrar-se nas graves decisões de algumas de minhas responsabilidades adultas. Eu a amo, preservo, e dou boas gargalhadas quando a vejo infiltrar-se nas graves decisões de algumas de minhas responsabilidades adultas.
Ninguém a vê, salvo eu. Ninguém a acaricia, salvo eu, que a estimo, procuro e admiro mais a cada dia. E com quem converso histórias infinitas, que somente a imaginação pode conceber no universo maravilhoso da fabulação interior e solitária. Ninguém a vê, salvo eu. Ninguém a acaricia, salvo eu, que a estimo, procuro e admiro mais a cada dia.
Diariamente passeio com minha criança, e estou muito feliz por cumprimentá-la, levar-lhe balas, nuvens, aquele cão da meninice. Diariamente passeio com minha criança, e estou muito feliz por cumprimentá-la, levar-lhe balas, nuvens, aquele cão da meninice. As canções de minha mãe e os carinhos de meu pai, levar-lhe os presentes que ganhava de meu padrinho e toda a enorme vontade de Ser que então adivinhava para a minha vida. As canções de minha mãe e os carinhos de meu pai, levar-lhe os presentes que ganhava de meu padrinho e toda a enorme vontade de Ser que então adivinhava para a minha vida.
Vida que chegou, ameaça passar, e da qual não me arrependo. Minha criança adivinhou em seus sonhos o adulto que eu queria ser. E traz alegria e esperanças à minha idade atual. Minha criança adivinhou em seus sonhos o adulto que eu queria ser. E traz alegria e esperanças à minha idade atual. Vida que chegou, ameaça passar, e da qual não me arrependo.
Hoje sou, há muito tempo, o adulto que sonhei ser. Hoje sou, há muito tempo, o adulto que sonhei ser. Talvez com “menos tensões, mas igualzinho em meu modo de amar a vida.” Talvez com “menos tensões, mas igualzinho em meu modo de amar a vida.”
Formatação: Ivone Pereira Imagens: Do meu arquivo Autor: Artur da Távola Música: Deuter Formatação: Ivone Pereira Imagens: Do meu arquivo Autor: Artur da Távola Música: Deuter