Aulas previstas: 7. O eu pessoal (13 slides) 8. As relações interpessoais (26 slides) 9. A pessoa na sociedade (15 slides) 10. Tempo, morte e imortalidade.

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Aulas previstas: 7. O eu pessoal (13 slides) 8. As relações interpessoais (26 slides) 9. A pessoa na sociedade (15 slides) 10. Tempo, morte e imortalidade (26 slides) 11. As últimas questões e a religião (20 slides) 1.Apresentação e Introdução A Pessoa: Dignidade e mistério (31 slides) 2.O Corpo (24 slides) 3.Sensibilidade e tendências (32 slides) 4. A afectividade (30 slides) 5.A inteligência (39 slides) 6.A liberdade (17 slides) ANTROPOLOGIA BREVE Aula 1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

1/31  A complexidade crescente do mundo actual e, nomeadamente, a avalanche de informação que nos esmaga, converteu a antropologia num instrumento absolutamente necessário. Com efeito, os meios de comunicação informam-nos sobre o que se passa em inúmeras partes do mundo, transmitem-nos as tendências do momento, tornam-nos presentes os comportamentos e costumes mais originais ou extravagantes, sugerem-nos múltiplas atitudes e acções, mas não nos apresentam critérios de avaliação. Entendem, talvez com razão, que a sua tarefa é informar, não formar ou interpretar. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

2/31  Esta “Antropologia breve” dirige-se àquelas pessoas que apenas desejem introduzir-se, de forma breve e sucinta, nas principais questões antropológicas. Apresenta breve e directamente os principais temas antro- pológicos, embora sem renunciar à pro- fundidade e precisão. O texto tem a sua fonte no manual original, do qual constitui uma versão muito reduzida, simplificada e depurada do aparato crítico e da bibliografia. Espera-se que seja útil para os que procuram uma introdução básica à antropologia. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

3/31  A pergunta sobre o homem é uma constante universal. Qualquer homem, qualquer mulher interrogam- se sobre si próprios, procuram saber o que são ou, melhor dito, quem são e responder às perguntas fundamentais sobre a existência: o que significa ser livre? O que são os meus sentimentos? Terei uma alma espiritual? Que vai acontecer quando morrer?  Estas perguntas fazem parte inseparável da existência humana, porque as pessoas não podem viver sem darem uma resposta, mais ou menos explícita, a essas questões. Não o fazer significaria viver no absurdo, na ignorância ou na irracionalidade, algo que é evidentemente inumano. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

4/31  São, contudo, perguntas muito complexas. Por isso, é-lhes dado todo o tipo de respostas: individuais, colectivas, religiosas, míticas, culturais. Um tipo de resposta especial, que é aquele que vamos expor neste livro, é a antropologia filosófica. As suas características são as seguintes: - Explicativa : a antropologia filosófica procura explicar e entender. - Metafísica ou ontológica : existem muitas concepções filosóficas sobre o homem; a ontológica entende-o não como um fluxo de sensações ou de fenómenos, mas como um ser subsistente e permanente, que mantém a sua identidade apesar das mudanças por que vai sofrendo. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

5/31 - Integral : oferece uma visão do homem que tem em conta todos os seus aspectos e dimensões : psicológicos, biológicos, socio- lógicos, espirituais, etc.  Sem sínteses nem visões globais, o homem perde-se no oceano da..informação e do saber.  Existem, de qualquer forma, antropologias filosóficas que adoptam uma atitude reducionista, isto é, que se centram de modo exclusivo num aspecto da pessoa esquecendo outros. São reducionistas, por exemplo, todas as filosofias que prescindem da dimensão espiritual, como o marxismo ou o materialismo cientista. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

6/31 - Científica : a Antropologia é um saber científico no sentido de procurar conhecer com profundidade, estabelecendo ligações, estruturando o saber de maneira sistemática, etc. Isto não significa que seja uma ciência experimental, semelhante à matemática ou à física. - Experimental : a antropologia filosófica surge a partir da análise da experiência humana. Não se trata de um saber abstracto que se deduz de pre- missas teóricas e irreais, mas de uma reflexão sobre o homem e a sua vida. Por isso, quem se dedica à antropologia filosófica deve ter, na medida do possível, um con- tacto profundo e rico com as realidades humanas. Nesta tarefa, é muito útil o recurso às experiências que outras pessoas tiveram e nos transmi- tem através da literatura, da arte, do cinema, etc. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

7/31  Salientamos, por último, que a antropologia que estamos a apresentar tem a particularidade de se inspirar no personalismo, uma corrente filosófica fundada por Emmanuel Mounier ( ), na França do período de entre-guerras mundiais (do século XX), e que mais tarde se estendeu a outros países europeus, como Itália, Espanha, Alemanha, Polónia, etc. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

8/31  Alguns dos seus principais representantes são Maritain, Wojtyla, Guardini, von Hildebrand, Mounier, Marías, Marcel ou Buber e a sua tese principal é elaborar toda a antropologia filosófica em torno do conceito de pessoa. Por isso, o primeiro capítulo começará por explicar o que devemos entender por pessoa humana. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

9/31  Provavelmente, a melhor definição que existe de pessoa é a que foi dada por Boecio no início da Idade Média (cerca de ) e que, posteriormente, foi assumida pela escolástica e, nomeada- mente, por S. Tomás de Aquino : pessoa é a substância individual de natureza racional. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO  Será possível definir a pessoa? 1. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

10/31 - a substancialidade, isto é, o facto de a pessoa subsistir através das mudanças e das modificações ; - a individualidade : a pessoa é uma realidade única e determinada, cada pessoa é distinta e diferente ; - a natureza racional : dentro do amplo mundo das substâncias, as pessoas constituem uma classe específica, aquelas que possuem inteligência.  Esta definição, com efeito, salienta muitos aspectos essenciais do ser humano : A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

11/31  Duas descrições deste tipo.  Uma muito bela, fê-la Jacques Maritain. «Quando dizemos que um homem é pessoa, não queremos dizer apenas que se trata de um indivíduo, (…). O homem é um indivíduo que se rege com a inteligência e com a vontade ; não existe somente na forma física, pois existe espiritualmente em conhecimento e em amor, de tal forma que, em certo sentido, é um universo por si próprio, um microcosmos → A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO  Todavia, não é uma definição totalmente perfeita. Por exemplo, não aparecem características essenciais da pessoa como a liberdade, a consciência, as relações interpessoais ou o eu.

12/31  Outra definição, de Juan Manuel Burgos : A pessoa é um ser digno em si mesmo, mas necessita de se entregar aos outros para conseguir a sua perfeição, A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO → (…). A pessoa humana possui estes caracteres porque, em última análise, o homem, (…) que um fogo divino faz viver e agir, existe (…) por obra da própria existência da sua alma que domi- na o tempo e a morte. É o espírito a raiz da personalidade ».

13/31 a)Substancialidade-subsistência b)Intimidade-subjectividade c)Ser corporal, espacial e temporal d)Abertura e definição e)Homem e mulher A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO 2. Principais características da pessoa

14/31 a) Substancialidade-subsistência  A pessoa é um ser com uma densidade existencial tão forte que permanece através das mudanças. A pessoa é sempre a mesma, embora o mundo em seu redor vá mudando e ela própria mude igualmente.  A pessoa não é um mero fluxo de vivências nem um agrupamento temporário de fenóme- nos que o tempo dissolve e transforma, mas um ser consistente que resiste à passagem dos anos e dos dias e, embora a filosofia tenha mais dificuldade em o confirmar, possui uma dimensão eterna. A esta realidade chama-se subsistência do ser pessoal. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO 2. Principais características da pessoa

15/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO  Aquilo que permanece nas mudanças da pessoa não se trata de uma «coisa», mas de um «quem», de um «alguém», de uma realidade muito pro- funda com uma grande riqueza interior que se manifesta e se exercita através de qualidades específicas: a sensibilidade, os afectos e sentimentos, a consciência de si mesma.  Todas essas características conformam a subjectividade: o que é próprio e específico de cada pessoa, o seu mundo interior, íntimo, diferente de qual- quer outro homem ou mulher. Este núcleo mais profundo é o que a torna um ser autónomo, consciente de si e independente, isto é, um alguém, um sujeito, um «eu», capaz de decidir sobre si próprio e posicionar-se diante do mundo. Pessoa, como diz Karol Wojtyla, é quem «se possui a si próprio». b) Intimidade-subjectividade

16/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO c) Ser corporal, espacial e temporal  O espaço : a pessoa move-se num espaço físico, geográfico e humano que lhe é ne- cessário para viver e que a condiciona: a casa, a cidade, o país, etc.  O tempo : a pessoa não é um ser estático, mas em constante evolução; é temporal, dinâmica e projectiva.  A pessoa tem uma dimensão material e corporal ; é subjectividade e intimidade, mas num corpo concreto, físico e determinado, é «alguém corporal». Isto tem numerosas consequências, mas uma das principais é que não se trata de um ser puramente espiritual, mas localizado e ferido pelo tempo.

17/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO d) Abertura e definição  Embora a pessoa tenha uma vida própria, pessoal e intransferível, não é um ser fechado em si próprio, mas aberto, que precisa de se transcender e sair de si para desenvolver-se em plenitude.  O homem relaciona-se com a realidade em três níveis fundamentais: as coisas, as relações interpessoais e Deus, e essa relação estabelece-se, por seu turno, em duas direcções : recepção e influência. O homem é afectado pelo mundo que o rodeia mas, pelo seu lado, através da sua actividade pode modificar esse mundo e transformá - lo de acordo com os seus desejos e necessidades.

18/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO e) Homem e mulher  Falar de pessoa implica colocar-se num certo nível de abstracção porque, na realidade, existem dois tipos ou modalidades diversas de pessoa humana : o homem e a mulher.  Não existem pessoas humanas em abstracto, mas pessoas humanas masculinas ou pessoas humanas femininas que contribuem com uma maravilhosa diversidade, rica em mistério e complementaridade. Isto não significa que o homem e a mulher sejam dois seres completa- mente distintos; são essencialmente iguais, mas o modo específico em que se constitui o seu ser pessoal, sendo igual nos níveis mais radicais, é diferente nas suas manifestações concretas.

19/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO  A corporalidade, a sensibilidade, a psicologia, a inteligência e a afectividade percorrem caminhos diferentes no homem e na mulher e enriquecem assim o mundo do ser pessoal.  A dignidade da pessoa é uma perfeição intrínseca e constitutiva, isto é, depende da existência e características essenciais do seu ser, não da posse ou capacidade de exercer determinadas qualidades. Qualquer pessoa é digna pelo mero facto de ser pessoa ;  Alguns desenvolvimentos do conceito de dignidade da pessoa 3. A dignidade da pessoa

20/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO  A dignidade da pessoa faz com que seja um valor em si mesma e não possa ser instrumentalizada. A perfeição intrínseca da pessoa faz com que tenha valor por si própria, pelo simples facto de ser pessoa ou de existir. Ninguém (nem sequer Deus) a pode instrumentalizar, isto é, servir- se dela unicamente como meio para os seus interesses, porque isso significaria que está a ser identificada com uma coisa e se está a prescindir do seu carácter pessoal.  O valor da pessoa é absoluto. Significa isto, por um lado, que é superior a qualquer outro valor que possamos encontrar no nosso meio : natureza, animais, bens materiais ou espirituais. Mas, mais radicalmente ainda, significa que é um valor não intermutável, manipulável ou substituível por nada.

21/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO  A dignidade da pessoa é o fundamento dos direitos humanos. O valor absoluto e a dignidade intrínseca da pessoa traduzem-se, no plano jurídico- social, na existência dos direitos humanos ou direitos fundamentais que possui pelo mero facto de ser pessoa.  A dignidade da pessoa faz com que cada homem e cada mulher sejam irrepetíveis e insubstituíveis. A constatação deste facto obrigou a uma reelaboração das noções de indivíduo e espécie para os homens. No reino animal, o que conta é a espécie; o indivíduo está ao seu serviço e deve sacrificar-se por ela se for preciso.

22/31  A afirmação da dignidade da pessoa está historicamente ligada ao cristianismo, porque os cristãos foram os primeiros a afirmar a total e radical igualdade de todos os homens. «Com efeito, afirma São Paulo, todos vós sois filhos de Deus por meio da fé em Jesus Cristo. Porque todos os que foram baptizados em Cristo, foram revestidos de Cristo. Já não existe diferença entre judeu e grego, nem entre escravo e pessoa livre, nem entre homem e mulher, porque todos vós sois um só em Jesus Cristo» (Carta aos Gálata s, 13, 26-28). A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

23/31  Mas esta não era a praxis vigente na Antiguidade que aceitava a escravatura, a limitação de direitos civis de acordo com a condição social e o sexo, etc. Foi a Igreja cristã que reivindicou a dignidade de qualquer pessoa. Hoje, a situação é em parte semelhante. Existe um reconhecimento geral da dignidade de qualquer pessoa nascida e normal, mas tende-se a restringir essa condição nas situações em que a pessoa é mais débil: as fases prévias ao nascimento (aborto) e o momento da morte (eutanásia). E também agora a Igreja cristã conti- nua na sua tarefa de defesa da dignidade de qualquer pessoa. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

24/31 4. A natureza humana  Embora a pessoa possua um carácter único e irrepetível, também é verdade que, ao fim e ao cabo, todos os homens são homens, isto é, possuem caracte - rísticas comuns que permitem identifi- cá-los como pessoas e não como leões, rochas ou macacos. A noção que reflecte do modo mais adequado esta semelhança é a de natureza. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

25/31 A noção de natureza provém da tradição aristotélico-tomista.  Aristóteles, no quadro da sua doutrina teleológica, indica que todos os seres têm um modo de ser determinado que se denomina essência. Esta essência ou modo de ser não é estática, tendo sim um dinamismo interno que a impulsiona a actuar para alcançar o fim ( telos ) adequado às suas características. Ora, esse dinamismo interno ou, por outras palavras, a essência enquanto prin- cípio de operações, é o que se chama natureza. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

26/31  No homem sucede o mesmo. Também as pessoas têm uma essência e uma natureza e, por isso, têm de actuar de um modo determinado para alcançar o que exige a sua perfeição. Mas, neste caso, existe uma diferença fundamental: a liberdade. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO  A noção de natureza humana tem importantes aplicações éticas e culturais : fundamentar - permite fundamentar a igualdade essencial de todos os homens. fundamentar - permite fundamentar uma ética universal, isto é, válida para todos os homens, pela simples razão de que, se a natureza é comum, os princípios éticos gerais também têm de sê-lo; fundamentar - permite fundamentar a existência de imperativos morais absolutos ; fundamentação - permite, por último, uma fundamentação transcendente da pessoa, visto que embora o homem seja livre, não cria a sua própria natureza, mas recebe-a.

27/31 5. A estrutura da pessoa  Estamos assim introduzidos no mundo da pessoa. Agora iremos aprofundar os diversos aspectos que a constituem. Em primeiro lugar vamos descrever as dimensões ou estruturas que definem o ser pessoal, algo que, em termos anatómicos, poderíamos comparar com uma descrição do corpo humano : determinar e caracterizar os ossos e os mús- culos, estabelecer que ligamentos lhe permitem movimentar-se e como, etc. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

28/31  Podemos apresentar já um esquema que pode ser útil para integrar e relacionar todos os conceitos que vão aparecer em seguida. Para isso, partiremos de uma divisão duplamente tripartida da pessoa.  Em primeiro lugar, e ampliando a divisão clássica da pessoa em alma e corpo, pensamos ser mais correcto e completo falar de três níveis «verticais» : corpo, psique e espírito.  A segunda divisão, de carácter «horizontal», atende às três dimensões ou potencialidades básicas pre- sentes nos três níveis da pessoa: o conhecimento, o dinamismo e a afectividade. A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO

29/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO A imagem resultante é a seguinte:  Por último, todos estes níveis se encontram coroados pelo eu, que actua como centro unificador de todas as estruturas pessoais.

30/31 A PESSOA: DIGNIDADE E MISTÉRIO  Nos capítulos seguintes, até ao 7, iremos descrever e explicar com algum pormenor esta estrutura.  Concretamente, falaremos do corpo (cap. 2 ); da sensibilidade e das tendências (cap. 3 ); da afectividade (cap. 4 ); da inteligência (cap. 5 ), da liberdade (cap. 6 ) e do eu (cap. 7 ). Nos capítulos 8 e 9, virar-nos-emos para as relações pessoais, concluindo, nos capítulos 10 e 11, com uma abordagem do destino último da pessoa.

31/31 Ficha técnica  Bibliografia  Estes Guiões são baseados nos manuais da Biblioteca de Iniciação Teológica da Editorial Rialp (editados em português pela editora Diel)  Slides  Original em português europeu - disponível em inicteol.googlepages.com