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Garanto-vos que em qualquer parte do mundo onde se anuncie a Boa Notícia será recordada esta mulher e o que ela fez. (Jesus de Nazaret) Lucas 7, 36-8,3.

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2 Garanto-vos que em qualquer parte do mundo onde se anuncie a Boa Notícia será recordada esta mulher e o que ela fez. (Jesus de Nazaret) Lucas 7, 36-8,3. Tempo Comum 11 C Autora: Mariasun Gutiérrez. Música: Saint-Saëns. Le Cygne (El Cisne)

3 A tradição identifica esta mulher com Maria Madalena, sem algum fundamento nos Evangelhos. Tão pouco é Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro (Jo. 12), Nem a outra Maria que também ungiu Jesus, não nos pés mas na cabeça (Mc 14) Muitas vezes, devido à injusta (e patriarcal) associação entre pecado feminino e pecado sexual, se identificou esta mulher com uma prostituta, mas o texto não diz nada disso. O que sabemos é que a sociedade a definiu como pecadora e por isso não pode relacionar-se com os outros nem com Deus. Desconhecemos qual é o seu pecado. Pode ter sido uma pessoa ritualmente impura ou moralmente má, uma prostituta ou a esposa de um pecador conhecido.

4 Naquele tempo, um fariseu convidou Jesus para comer com ele. Jesus entrou em casa do fariseu e tomou lugar à mesa. Segundo Lucas, Jesus aparece três vezes convidado por fariseus: (Luc 7,36; 11,37; 14,1). Nas três ocasiões tem uma atitude crítica para com eles. Jesus aceita o convite, como prova de abertura e de capacidade de diálogo e, ao mesmo tempo, da sua firmeza perante o erro, a intransigência e a duplicidade.

5 Então, uma mulher – uma pecadora que vivia na cidade – ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com perfume; pôs-se atrás de Jesus e, chorando muito, banhava-Lhe os pés com as lágrimas e enxugava-lhos com os cabelos, beijava-os e ungia-os com o perfume. A cena está cheia duma profunda sensualidade: o tacto, os beijos, as lágrimas, o perfume, a cabeleira solta, uma parte do corpo feminino que nunca devia ficar à vista dos homens. São gestos que se apresentam escandalosos, abalam todas as normas sociais e religiosas. Jesus sabe que, para a mentalidade farisaica, essa unção é claramente provocativa e indecente e que a sua imagem ficaa desvalorizada. Contudo, deixa actuar a mulher sem oferecer a mínima resistência. Esta mulher tem sede de Bondade, ânsia de Deus. Sabe que, por meio de Jesus, é Deus quem Se adianta a oferecer acolhimento e perdão e a sua experiência de libertação interior provoca uma resposta de amor e gratidão que a leva a viver dum modo novo.

6 Ao ver isto, o fariseu que tinha convidado Jesus pensou consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia que a mulher que O toca é uma pecadora». Simão pensa que Jesus não pode ser um profeta de Deus, colocando o Reino ao alcance de tod@s, quando esta universalidade vai contra tudo o que anteriormente tinha sido considerado a vontade de Deus revelada no Templo e na Torá. Considera-se justo, perfeito, e com direito a julgar as outras pessoas, como boas ou más, cumpridoras ou pecadoras, segundo os seus esquemas mentais. Para as pessoas que se crêem perfeitas, melhores que as outras, na posse da verdade, o Evangelho da compaixão e do perdão gratuito e incondicional não é Boa Notícia, é escândalo.

7 Jesus tomou a palavra e disse-lhe: -Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Ele respondeu: -Fala, Mestre. Jesus continuou: -Certo credor tinha dois devedores; um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Como não tinham com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles ficará mais seu amigo? Respondeu Simão: -Aquele – suponho eu – a quem mais perdoou. Disse-lhe Jesus: -Julgaste bem. Jesus quer transmitir uma mensagem básica na sua pregação e na sua actuação: a importância do amor e do perdão gratuito e incondicional. A misericórdia e a bondade, atributos de Deus, são manifestadas uma e outra vez nas parábolas.

8 E voltando-Se para a mulher, disse a Simão: -Vês esta mulher? Vejo as pessoas? Como as vejo? Como as olho? Atrevo-me a menosprezar e julgar por aparências, etiquetas, preconceitos...? O olhar de Jesus é de acolhimento, ajuda, proximidade, tolerância, compreensão, perdão, amor.... Olho as pessoas como as olha Jesus?

9 Entrei em tua casa e não Me deste água para os pés; mas ela banhou-Me os pés com as lágrimas e enxugou-os com os cabelos, Não Me deste o ósculo; mas ela, desde que entrei, não cessou de beijar-me os pés. Não me derramaste óleo na cabeça; mas ela ungiu-Me os pés com perfume. Por isso te digo: são-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Jesus fala a Simão, e a nós, de água, de lágrimas, de beijos, de unguentos e perfumes. Jesus faz destes sinais simples, sacramentos de amor e de perdão, de vida nova, de ressurreição Jesus põe-Se do lado da mulher, do lado da pecadora frente ao justo e puro. Aparece a palavra-chave, amor, e a radical diferença entre o fariseu e Jesus, entre a antiga lei e a Boa Notícia. Segundo Jesus ela é a verdadeira anfitriã. Deste modo anticipa o papel de outras mulheres que, com o seu acolhimento, converterão as suas casas em igrejas domésticas, plataforma das primeiras comunidades.

10 Depois disse à mulher: -Os teus pecados estão perdoados. Então os convivas começaram a dizer entre si: «Quem é este homem, que até perdoa os pecados?». Mas Jesus disse à mulher: -A tua fé te salvou. Vai em paz. O perdão de Jesus não é a sua resposta ao arrependimento e ao amor da mulher. Essa seria a mentalidade farisaica, “como me porto bem, Deus me premeia e me perdoa”. A acção da mulher é uma resposta agradecida pelo perdão recebido gratuitamente. O perdão é obra do amor de Deus. Não é uma simples mancha e conta nova, é um convite a entrar numa nova relação com Deus, baseada no amor. Experimentar o amor e o perdão gratuito de Deus torna-nos livres, capazes de perdoar e de amar. A forma de actuar de Jesus ofende a sensibilidade religiosa, não só dos seus contemporâneos mas de muitos cristãos de todos os tempos. As palavras de Jesus à mulher são as palavras que Jesus continua a pronunciar. São palavras que devemos estar sempre dispostos a pronunciar.

11 Depois disso, Jesus ia caminhando por cidades e aldeias, a pregar e a anunciar a Boa Nova do reino de Deus. Acompanhava m-n’ O os Doze, bem como algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Eram Maria, chamada Madalena, de quem tinham saído sete demónios, Joana, mulher de Cusa, administrador de Herodes, Susana e muitas outras, que serviam Jesus com os seus bens Pela fé e pelo amor, aquela mulher ficou vinculada a Jesus. É fácil imaginá-la entre as mulheres que acompanhavam Jesus como discípulas, testemunhas de tudo quanto Jesus realizou na Galileia, no caminho para Jerusalém e em Jerusalém, incluída a última ceia. Jesus não escolheu nem excluiu por ser homem ou mulher. Suscitou um discipulado de iguais que todavia necessita ser descoberto e realizado pelas mulheres e os homens dos nossos dias.

12 Chama-me a atenção, Jesus, a sensibilidade do teu olhar; A quantidade de vezes que se te “escapam os olhos” para descobrir pessoas que te necessitam. Preocupas-te em olhar, porque as pessoas são o mais importante para ti, gastas tempo em fixares e, então, vês. Olhar criador o teu, Jesus, que quando alguém se encontra com ele, sente como cresce uma vida nova no seu interior. Olhar o teu, Jesus, que se fixa, sobretudo, nas pessoas excluídas da sociedade, “mal vistas”e te aproximas e as incluis no teu grupo. Olhar humanizador que põe em pé a pessoa e lhe restitui a dignidade que as pessoas “decentes e bem vistas” lhe tiraram. Olhar cheio de amor e de ternura o teu, Jesus, que se deixa afectar pelo que vê; que chega às tuas entranhas de misericórdia. Olhar que nos convida a ir pela vida com os olhos da cara e os do coração bem abertos; a ir mais além das aparências; a não nos deixarmos enganar pelo que nos fazem ver; a crer na pessoa, nas suas possibilidades, ainda que não vejamos os resultados. Olhar, também Jesus, que se vira duro e desafiante, quando vê que alguém pretende pôr a Lei ou a tradição acima da pessoa. Olhar sereno e cheio de fortaleza, a partir de um coração livre e coerente, que apostou por Abbá e o seu projecto e nele pôs o sentido da sua vida. Ensina-nos, Jesus, a olhar para cima, deixando que nos empapem, “a ternura e as entranhas de misericórdia” de Deus, nossa Mãe, nosso Pai, mas que nos situe aqui abaixo, para não olhar as outras pessoas desde cima.(Marta Zubía)


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